"Quando eu deitei, ele me examinou, ele fez o toque, com os dedos. Foi quando ele disse que de fato tinha características de um aborto espontâneo. Nesse momento, ele tirou as luvas, jogou no lixo, e começou a massagear os meus seios". O depoimento é de uma das mulheres que acusam um médico ginecologista de abusos na cidade de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, e relata ter sido vítima do médico ao procurar emergência após ter sofrido um aborto espontâneo.
Mais de 20 mulheres relataram à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ter sido vítimas do médico Orcione Júnior durante consultas. Nove delas, até esta quinta-feira (16), também já procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) para prestar depoimento sobre os casos.
A mulher que diz ter sido abusada após sofrer o aborto não quis se identificar. Ela foi uma das que levaram o caso ao conhecimento da Polícia Civil e afirma que ficou traumatizada após o ocorrido. "Naquele momento eu já sabia que aquilo não era procedimento de uma pessoa que tava ali por outros motivos, não tinha por que tocar nos seios. E aí ele, ele começou a acariciar meu corpo todo", relatou, bastante emocionada.
A mulher disse que já tinha ido uma vez no médico e que, na ocasião, foi assediada por ele. Afirma que ficou em choque e que só voltou uma segunda vez no mesmo profissional por conta da situação emergencial.
"Eu não conseguia raciocinar e entender que eu estava abortando de um filho que eu não tinha certeza que eu estava esperando, e que ao mesmo tempo eu estava sendo abusada. Eu estava em choque. Eu só queria sair dali", completou a vítima.
Outra mulher que denunciou o médico à Polícia Civil informou, também sob anonimato, que era a primeira vez que tinha ido em um ginecologista e que ficou confusa inicialmente com as atitudes do médico.
"Ele fez exame nos meus seis e depois, ainda de pé, ele introduziu os dedos em mim e me olhava. A única reação que eu tive foi desviar o olhar e esperar que aquilo acabasse, mas sem entender se aquilo fazia parte ou não do procedimento. Porque na hora, você está ali, você está vulnerável, passa um milhão de coisas na sua cabeça, mas você não consegue discernir se aquilo é normal no procedimento ou não".
As mulheres contam que não tiveram coragem de denunciar na época dos crimes por medo e vergonha. Mas, quando as denúncias surgiram na internet, elas afirmam que se sentiram encorajadas.
"O sentimento de revolta é muito grande, e eu acho que o que dói mais é a descrença de algumas pessoas por acreditarem que a gente está fazendo isso para querer aparecer, para querer ganhar mídia. Essa coisa da culpabilização da vítima é bastante complicado", destacou.
O MP-BA informou, na quarta, que já está acompanhando o caso e aguarda a conclusão do inquérito por parte da Polícia Civil para decidir, com base nos autos, se vai ou não oferecer denúncia contra o suspeito.
Defesa do médico
O advogado de defesa médico Orcione Júnior, Paulo de Tarso, informou por telefone, que o profissional nega todas as acusações. O advogado disse ainda que o cliente vai conceder uma entrevista coletiva à imprensa, na sexta-feira (17), para dar sua versão sobre o caso.