Com déficit acumulado em R$ 8 milhões, Santa Casa pede ajuda

Um dos mais antigos hospitais filantrópicos de Mato Grosso, prestes a completar 298 anos, a Santa Casa da Misericórdia de Cuiabá passa por um momento delicado e pede a ajuda da população. 

A institutição conta, atualmente, com um déficit já acumulado em R$ 8 milhões, o que apenas se agrava, segundo a presidência da casa, devido à defasagem dos valores que a unidade recebe do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por mês, a Santa Casa realiza cerca de 300 cirurgias e recebe mais de mil pacientes - entre crianças e adultos - de todo o Estado.

A unidade hospitalar conta hoje com mais de 20 especialidades e possui o maior centro pediátrico do Estado, além de 252 leitos e 11 alas. Dos atendimentos, 90% são feitos pelo SUS e o restante são de convênios e particular, sendo 51% de Cuiabá e 49% do interior.

Segundo o presidente da Santa Casa, o médico Antônio Preza, é ai que reside o problema da unidade hospitalar. O SUS não paga o valor das cirurgias e dos materiais hospitalares corretamente.

Marcus Mesquita/MidiaNews

Santa Casa realiza cerca de 300 cirurgias; valor defasado da tabela do SUS prejudica hospital

“A tabela do SUS não tem um aumento há 12 anos e tem gerado um déficit financeiro enorme”, disse.

O presidente explicou que o ideal seria que a unidade trabalhasse com 60% do SUS e 40% de particular e convênios.

“Nós temos trabalhado com 17% particular e convênio e agora estamos com um projeto de um bloco para particular e convênios com 60% para o SUS e 40% para particular, pois se estivéssemos assim, viveríamos bem. Então, estamos tentando arrumar uma solução definitiva para esse problema e melhorar nossa renda”, explicou.

“Aqui nós temos um déficit de R$ 800 mil por mês. Esse déficit é porque o que nós recebemos do SUS não cobre os nossos gastos. Nós fizemos uma reunião com todos os hospitais filantrópicos do país e todos estão na mesma situação que nós, então, estamos tentando buscar alternativas para mudar essa situação”, completou.

Para ajudar na melhoria e cobrir os gastos, o hospital deve construir mais 25 leitos de UTI para conveniados e particular. Na unidade já existem 30 leitos pelo SUS.

“Agora, vamos construir 15 leitos para a UTI adulta, cinco para UTI pediátrica e cinco para UTI Neonatal, com isso deve gerar um rendimento rápido e vai ajudar o Hospital a sair desse déficit”, disse Preza.

Problema recorrente
 

Aqui nós temos um déficit de R$ 800 mil por mês. Esse déficit é porque o que nós recebemos do SUS não cobre os nossos gastos

Segundo o médico, os problemas com custeios e gastos começaram há muitos anos. Ele começou a trabalhar na Santa Casa em 1978 e disse que a falta de recursos já virou algo histórico e a situação sempre oscilou entre "ruim ou muito ruim".

“Sempre tivemos esses problemas desde quando entrei aqui na Santa Casa, mas questão é que antigamente tínhamos mais ajuda e agora as coisas estão mais difíceis e mais escassas". afirmou. "Quando o grupo assumiu a unidade percebeu que estávamos trabalhando com déficit e que não era somente conosco. Isso já vinha acontecendo em todas as santas casas do Brasil.O SUS sempre pagou muito pouco e os gastos aumentaram, então, isso sempre fez com que trabalhássemos dessa forma: sempre tem contas a pagar e isso é um problema muito sério”, completou Preza.

Outro aspecto que tem dificultado os atendimentos no hospital, segundo o médico, é a questão de incorporação da tecnologia, que cada vez mais exige melhorias em seus equipamentos.
 

“Com a atualização sempre de tecnologias novas para o atendimento na nossa unidade, faz com que a nossa receita seja muito baixa, porque pagamos caro pelo uso desses equipamentos e, alguns procedimentos que o SUS paga, não suprem a demanda. Por exemplo, por uma hérnia bilateral, o SUS paga para o hospital R$ 279 e para o médico R$ 146 para fazer uma cirurgia. Um especialista recebe do SUS R$ 10 por uma consulta, então, é por isso que ninguém quer fazer nada pelo sistema público. Isso tudo faz com que a gestão do hospital seja muito difícil”, disse.

“Adote uma enfermaria”

A Santa Casa de Cuiabá lançou, em novembro de 2014, uma campanha que se chama “Adote uma Enfermaria e Faça a Diferença”, com o intuito de mobilizar a sociedade cuiabana a ajudar com a reforma das enfermarias, o que já beneficiou nove delas até hoje.

Jefferson Eduardo/MidiaNews

Telma Preza: "Precisamos de muito apoio financeiro, precisamos de reforma, precisamos de medicamentos, roupas, calçados"

Para a coordenadora do Voluntariado, Telma Preza, as colaborações estão vindo "sempre uma atrás da outra".
A Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL) foi a primeira a adotar uma enfermaria e, em seguida, outras empresas se sensibilizaram e começaram a apadrinhar outras alas, segundo a coordenadora.

“Cada enfermaria tem na entrada tem o nome da empresa pela qual foi doado o custeio da reforma para as pessoas saberem quem fez isso pela nossa unidade”, afirma.

Apesar de a campanha estar sendo um sucesso, a coordenadora faz um apelo para a população para que ajudem com doações. Ela afirmou que ainda há muitas enfermarias precisando de reformas e de itens básicos, como roupas, chinelos, alimentos, materiais de limpeza, entre outros.

“Eu costumo dizer que estamos sempre precisando de tudo, então toda ajuda é bem vinda. Nós temos um grupo de voluntariados e, quem puder ajudar, saiba que não tem burocracia. É só vir aqui que recebemos”, explicou.

Além disso, a Santa Casa conta com um brechó dentro da unidade, que sempre ajuda com a renda em necessidades básicas do dia-a-dia, como na compra de leites para crianças que necessitam de cuidados especiais.

“Precisamos de muito apoio financeiro, precisamos de reforma, precisamos de medicamentos, roupas, calçados. Hoje, desde um lápis até o medicamento de mais alto custo, a Santa Casa precisa”, afirmou. O atendimento aos interessados em fazer doações é feito pelos telefones (65) 3055-2293 ou (65) 3622-0693